20.8.06

Cotidiano

Esse dia-a-dia...

Se bobear, o mundo engole e
quando vê
já foi.

É o turbilhão.

Quando vê,
os homens são números
estatística
mero detalhe no mundo,
reféns das altas rotações do ponteiro do relógio
e das calotas das rodas dos carros,
nas ruas que ele mesmo criou.

a tinta

As minhas angústias
eu escrevo a lápis,
que é pra escrever escrever escrever escrever
e ainda depois de tanto papel
ter o fel a chance de ser apagado
pela deleitável borracha

Cismou, porém, de escrever-te à caneta
o meu coração
A paixão, cega, crê
em tudo que diz a caneta
Já a razão (- confusão!)
quer ter mãos para, sem pensar,
palavras cortar
e o penar encerrar.

Quem sabe...

Pode ser
que possa ser
que algo que não pudera nunca ser
venha a ser,
sendo aquilo que
não parecia que seria
mas agora foi.
Então quem pode dizer
o que pode
e o que não pode ser,
se o que antes não poderia
hoje já é?

velho discurso

fale, não pense
(-que pensar já é perder tempo.)

grite e a discussão dispense
(-porque eu tenho a verdade, não ouça o outro. Siga-me!)

use, não use. goste, não goste

assim é um pouco intransigente por demais
assim é muito estúpido
é o problema de ver tudo enquadrado

Um só

Cada um sabe da dor de ser aquilo que é.
Meu tortuoso caminho sujeito algum
com maior conhecimento
é capaz de precisar
Essencialmente a mim há de afetar
A sensação dos tropeços em meu enveredar

Cada um sabe o peso do fardo que carrega
Os infortúnios suportar
tão somente cabe ao próprio ser
sobre o qual tal peso desabe
Onde e como andar dependem
do quanto este consegue agüentar

E os dias irão dizer
se recompensa maior verá
aquele que com sua aflição conviver